Rmorsos

Castro Alves

Em que pensa Carlota após a valsa, No tapete Atirando o bournous quando descalça... Ou melhor... quando rompe a luva, a fita, Se a presilha, o colchete, Em leve resistência a mão lhe irrita... Em que pensa Carlota após a valsa? Em que sonha Carlota à madrugada, Quando aperta Ao travesseiro a boca perfumada. E afoga o seio sob a cruz de prata, Pela camisa aberta, Que um movimento lânguido desata... Em que sonha Carlota à madrugada? Com quem fala Carlota ao sol poente, Na sombria alameda, Quando os cisnes se arrufam na corente... E o vento pelas grutas cochichando Uns noivos arremeda, Que estão como dois pombos arrulando... Com quem fala Carlota ao sol poente? Por que chora Carlota ao meio-dia, Quando nua de adorno, Cobrindo os pés... co’a trança luzidia, Entrega o corpo ao vacilar da rede, E olhando o campo morno, Os lábios morde... pr’a matar a sede. Por que chora Carlota oa meio-dia? O que cisma, o que sente, por quem chora A soberba Carlota? A rainha das salas já descora... Foge o cetro do leque aos dedos frouxos, E a turba alegre nota O fundo circ’lo de seus olhos roxos. Que não diz o que cisma e porque chora... Quem te mata, Carlota, são remorsos De algum divino crime? São ciúmes que escondem teus esforços? Tens vergonha talvez deste rosário Que tua mão comprime, Porque um sopro roçou no relicário? E desmaias, Carlota, de remorsos?! Se é por isso não pises tanto os olhos... Formosa criatura! O mundo é um mar de pérfidos escolhos, Quem te pode lançar primeiro a pedra? Amor! e formosura! Deus não corta a roseira porque medra... Se é por isso não pises tanto os olhos! Mas não! Chora! Teu mal é sem remédio... Serás mártir sem palma, Pregada numa cruz... na cruz do tédio! Fria Carlota! Cobre-te de pejo... Mataste à sede um’alma! Fizeste o crime... de negar um beijo! Chora! Que este remorso é sem remédio!!...