Anoitecer

Florbela Espanca

A luz desmaia num fulgor d'aurora, Diz-nos adeus religiosamente... E eu, que nao creio em nada, sou mais crente Do que em menina, um dia, o fui... outrora... Náo sei o que em mim ri, o que em mim chora Tenho bênçâos d'amor pra toda a gente! Como eu sou pequenina e tâo dolente No amargo infinito desta hora! Horas tristes que sao o meu rosário... Ó minha cruz de tao pesado lenho! Meu áspero e intérmino Calvário! E a esta hora tudo em mim revive: Saudades de saudades que não tenho... Sonhos que sâo os sonhos dos que eu tive...