Folhas De Rosa

Florbela Espanca

Todas as prendas que me deste, um dia, Guardei-as, meu encanto, quase a medo, E quando a noite espreita o pôr-do-sol, Eu vou falar com elas em segredo ... E falo-lhes damores e de ilusões, Choro e rio com elas, mansamente... Pouco a pouco o perfume do outrora Flutua em volta delas, docemente ... Pelo copinho de cristal e prata Bebo uma saudade estranha e vaga, Uma saudade imensa e infinita Que, triste, me deslumbra e membriaga O espelho de prata cinzelada, A doce oferta que eu amava tanto, Que reflectia outrora tantos risos, E agora reflecte apenas pranto, E o colar de pedras preciosas, De lágrimas e estrelas constelado, Resumem em seus brilhos o que tenho De vago e de feliz no meu passado... Mas de todas as prendas, a mais rara, Aquela que mals fala à fantasia, São as folhas daquela rosa branca Que a meus pés desfolhaste, aquele dia...