Nunca Mais!

Florbela Espanca

Ó castos sonhos meus! Ó mágicas visões! Quimeras cor de sol de fúlgidos lampejos! Dolentes devaneios! Cetíneas ilusões! Bocas que foram minhas florescendo beijos! Vinde beijar-me a fronte ao menos um instante, Que eu sinta esse calor, esse perfume terno; Vivo a chorar a porta aonde outrora o Dante Deixou toda a esprança ao penetrar o inferno! Vinde sorrir-me ainda!Hei-de morrer contente Cantando uma canção alegre, doidamente, A luz desse sorriso, ó fugitivos ais! Vinde beijar-me a boca ungir-me de saudade Ó sonhos cor de sol da minha mocidade! Cala-te lá destino!... "Ó Nunca, nunca mais!..."