A Meu Pai Morto

Augusto dos Anjos

Madrugada de treze de Janeiro. Rezo, sonhando, o ofício da agonia. Meu pai nessa hora junto a mim morria Sem um gemido, assim como um cordeiro! E eu nem lhe ouvi o alento derradeiro! Quando acordei, cuidei que ele dormia, E disse à minha Mãe que me dizia: "Acorda-o!" deixa-o, Mãe, dormir primeiro! E sai para ver a Natureza! Em tudo o mesmo abismo de beleza, Nem uma névoa no estrelado céu. Mas pareceu-me, entre as estrelas flóreas, Como Elias, num carro azul de glórias, Ver a alma de meu Pai subindo ao Céu!