Há um rumor de bosque no pequeno jardim Um rumor de bosque no canto dos cedros Sob o íman azul da lua cheia O rio cheio de escamas brilha. Negra cheia de luzes brilha a cidade alheia. Brilha a cidade dos anúncios luminosos Com espiritismo bares e cinemas Com torvas janelas e seus torvos gozos Brilha a cidade alheia. Com seus bairros de becos e de escadas De candeeiros tristes e nostálgicas Mulheres lavando a loiça em frente das janelas Ruas densas de gritos abafados Castanholas de passos pelas esquinas Viragens chiadas dos carros Vultos atrás das cortinas Cíclopes alucinados. De igreja em igreja batem a hora os sinos E uma paz de convento ali perdura Como se a antiga cidade se erguesse das ruínas Com sua noite trémula de velas Cheia de aventura e de sossego. Mas a cidade alheia brilha Numa noite insone De luzes fluorescentes Numa noite cega surda presa Onde soluça uma queiza cortada. Sozinha estou contra a cidade alheia. Comigo Sobre o cais sobre o bordel e sobre a rua Límpido e aceso O silêncio dos astros continua.