Cemitério Adalgisa

Adalgisa Nery

Moram em mim Fundos de mares, estrelas-d’alva, Ilhas, esqueletos de animais, Nuvens que não couberam no céu, Razões mortas, perdões, condenações, Gestos de amparo incompleto, O desejo do meu sexo E a vontade de atingir a perfeição. Adolescências cortadas, velhices demoradas, Os braços de Abel e as pernas de Caim. Sinto que não moro. Sou morada pelas coisas como a terra das sepulturas É habitada pelos corpos. Moram em mim Gerações, alegrias em embrião, Vagos pensamentos de perdão. Como na terra das sepulturas Mora em mim o fruto podre, Que a semente fecunda repetindo a vida No sereno ritmo da Origem. Vida e morte, Terra e céu, Podridão, germinação, Destruição e criação.