Pálida Imagem

Álvares de Azevedo

No delírio da ardente mocidade Por tua imagem pálida vivi! A flor do coração no amor dos anjos Orvalhei-a por ti! O expirar de teu canto lamentoso Sobre teus lábios que o palor cobria, Minhas noites de lágrimas ardentes E de sonhos enchia! Foi por ti que eu pensei que a vida inteira Não valia uma lágrima... sequer, Senão num beijo trêmulo de noite... Num olhar de mulher! Mesmo nas horas de um amor insano, Quando em meus braços outro seio ardia, A tua imagem pálida passando A minh'alma perdia. Sempre e sempre teu rosto! as negras tranças, Tua alma nos teus olhos se expandindo! E o colo de cetim que pulsa e geme E teus lábios sorrindo! Nas longas horas do sonhar da noite No teu peito eu sonhava que dormia; Pousa em meu coração a mão de neve...... Treme... como tremia. Como palpita agora se afogando Na morna languidez do teu olhar... Assim viveu e morrerá sonhando Em teus seios amar! Se a vida é lírio que a paixão desflora, Meu lírio virginal eu conservei... Somente no passado tive sonhos E outrora nunca amei! Foi por ti que na ardente mocidade Por uma imagem pálida vivi! E a flor do coração no amor dos anjos Orvalhei... só por ti!