Depois da orgia

Augusto dos Anjos

O prazer que na orgia a hetaíra goza Produz no meu sensorium de bacante O efeito de uma túnica brilhante Cobrindo ampla apostema escrofulosa! Troveja! E anelo ter, sôfrega e ansiosa, O sistema nervoso de um gigante Para sofrer na minha carne estuante A dor da força cósmica furiosa. Apraz-me, enfim, despindo a última alfaia Que ao comércio dos homens me traz presa, Livre deste cadeado de peçonha, Semelhante a um cachorro de atalaia Às decomposições da Natureza, Ficar latindo minha dor medonha!