Dolências

Augusto dos Anjos

Oh! lua morta de minha vida, Os sonhos meus Em vão te buscam, andas perdida E eu ando em busca dos rastos teus... Vago sem crenças, vagas sem norte Cheia de brumas e enegrecida, Ah! se morrestes p'ra minha vida! Vive, consolo de minha morte! Baixa, portanto, coração ermo De lua fria À plaga triste, plaga sombria Dessa dor lenta que não tem termo. Tu que tombaste no caos extremo Da Noite imensa do meu Passado Sabes, da angústia do torturado... Ah! tu bem sabes porque é que eu gemo! Instilo mágoas saudoso, e enquanto Planto saudades n'um campo morto, Ninguém ao menos dá-me um conforto, Um só ao menos! E no entretanto Ninguém me chora, ah! se eu tombar Cedo na lida... Oh! lua fria vem me chorar Oh! lua morta de minha vida!