Nesta cidade do Rio De dois milhões de habitantes Estou sozinho no quarto Estou sozinho na América. Estarei mesmo sozinho? Ainda há pouco um ruído Anunciou vida a meu lado. Certo não é vida humana, Mas é vida. E sinto a Bruxa Presa na zona de luz. De dois milhões de habitantes! E nem precisava tanto... Precisava de um amigo, Desses calados, distantes, Que lêem verso de Horácio Mas secretamente influem Na vida, no amor, na carne. Estou só, não tenho amigo, E a essa hora tardia Como procurar amigo? E nem precisava tanto. Precisava de mulher Que entrasse nesse minuto, Recebesse esse carinho Salvasse do aniquilamento Um minuto e um carinho loucos Que tenho para oferecer. Em dois milhões de habitantes Quantas mulheres prováveis Interrogam-se no espelho Medindo o tempo perdido Até que venha a manhã Trazer leite, jornal, calma. Porém a essa hora vazia Como descobrir mulher? Esta cidade do Rio! Tenho tanta palavra meiga, Conheço vozes de bichos, Sei os beijos mais violentos, Viajei, briguei, aprendi Estou cercado de olhos, de mãos, afetos, procuras Mas se tento comunicar-me, O que há é apenas a noite E uma espantosa solidão Companheiros, escutai-me! Essa presença agitada Querendo romper a noite Não é simplesmente a Bruxa. É antes a confidência Exalando-se de um homem.