Doce filha da lânguida tristeza, Ergue a fronte pendida — o sol fulgura! Quando a terra sorri-se e o mar suspira Por que te banha o rosto essa amargura?! Por que chorar quando a natura é risos, Quando no prado a primavera é flores? — Não foge a rosa quando o sol a busca, Antes se abrasa nos gentis fulgores. Não! — Viver é amar, é ter um dia Um amigo, uma mão que nos afague; Uma voz que nos diga os seus queixumes, Que as nossas mágoas com amor apague. A vida é um deserto aborrecido Sem sombra doce, ou viração calmante; — Amor — é a fonte que nasceu nas pedras E mata a sede à caravana errante. Amai-vos! — disse Deus criando o mundo, Amemos! — disse Adão no paraíso, Amor! — murmura o mar nos seus queixumes, Amor! — repete a terra num sorriso! Doce filha da lânguida tristeza, Tua alma a suspirar de amor definha... — Abre os olhos gentis à luz da vida, Vem ouvir no silêncio a voz da minha! Amemos! Este mundo é tão tristonho! A vida, como um sonho — brilha e passa; Por que não havemos pra acalmar as dores Chegar aos lábios o licor da taça? O mundo! o mundo! — E que te importa o mundo? — Velho invejoso, a resmungar baixinho! Nada perturba a paz serena e doce Que as rolas gozam no seu casto ninho. Amemos! — tudo vive e tudo canta... Cantemos! seja a vida — hinos e flores; De azul se veste o céu... vistamos ambos O manto perfumado dos amores. Doce filha da lânguida tristeza, Ergue a fronte pendida — o sol fulgura! — Como a flor indolente da campina Abre ao sol da paixão tua alma pura!