A Visão dos Mortos

Castro Alves

On rapporte encore quun berger ayant été introduit une fois par un nain dans le Hyffhaese, lempereur (Barberousse) se leva et lui demanda si les corbeaux volaient encore autour de la montagne. Et, sur la réponse afíirmative du berger, il sécria en soupirant: i1 faut donc que je dors encore pendant cent ans"! H. Heine (Allemagne) Nas horas tristes que em neblinas densas A terra envolta num sudário dorme, E o vento geme na amplidão celeste - Cúpula imensa dum sepulcro enorme, - Um grito passa despertando os ares, Levanta as lousas invisível mão. Os mortos saltam, poeirentos, lívidos. Da lua pálida ao fatal clarão. Do solo adusto do africano Saara Surge um fantasma com soberbo passo, Presos os braços, laureada a fronte, Louco poeta, como fora o Tasso. Do sul, do norte... do oriente irrompem Dórias, Siqueiras e Machado então. Vem Pedro lvo no cavalo negro Da lua pálida ao fatal clarão. O Tiradentes sobre o poste erguido Lá se destaca das cerúleas telas,, Pelos cabelos a cabeça erguendo, Que rola sangue, que espadana estrelas. E o grande Andrada, esse arquiteto ousado, Que amassa um povo na robusta mão: O vento agita do tribuno a toga Da lua pálida ao fatal clarão. A estátua range... estremecendo move-se O rei de bronze na deserta praça. O povo grita: Independência ou Morte! Vendo soberbo o Imperador, que passa. Duas coroas seu cavalo pisa, Mas duas cartas ele traz na mão. Por guarda de honra tem dous povos livres, Da lua pálida ao fatal clarão. Então, no meio de um silêncio lúgubre, Solta este grito a legião da morte: "Aonde a terra que talhamos livre, Aonde o povo que fizemos forte? Nossas mortalhas o presente inunda No sangue escravo, que nodoa o chão. Anchietas, Gracos, vós dormis na orgia, Da lua pálida ao fatal clarão. "Brutus renega a tribunícia toga, O apostlo cospe no Evangelho Santo, E o Cristo - Povo, no Calvário erguido, Fita o futuro com sombrio espanto. Nos ninhos dáguias que nos restam? - Corvos, Que vendo a pátria se estorcer no chão, Passam, repassam, como alados crimes, Da lua pálida ao fatal clarão. "Oh! é preciso inda esperar cem anos... Cem anos. . . " brada a legião da morte. E longe, aos ecos nas quebradas trêmulas, Sacode o grito soluçando, - o norte. Sobre os corcéis dos nevoeiros brancos Pelo infinito a galopar lá vão... Erguem-se as névoas como pó do espaço Da lua pálida ao fatal clarão.