Ao Sr Furtado Coelho

Castro Alves

Tu és, artista, quem revive as eras Quem reanima pálidos perfis, Gênio elevado - idéias tu geras Gênio! este nono quanto vales, diz! Franklin Dória DO GÊNIO a estrada é difícil, Mas é brilhante também, Se o gênio marcha entre cardos, Marcha entre a rosa — a cecém. Ao vê-lo o mundo então pasma, No peito a inveja marasma, E cala-se o ódio ignavo, E quem tem fogo na fronte, Quem tem nalma rica fonte De amores, ergue o seu bravo. Ergueste a voz em Dalila, Contigo o artista adorei; Depois em Lúcia choraste, Contigo Lúcia chorei. Falaste após, duro e frio, No Cinismo — um calafrio Passou-me gelado naima. Eia, pois, Proteu da arte, Que assim sabes transformar-te Que a Proteu levas a palma. Eia! o povo já admira O gênio que em ti transluz, Nem passa o gênio sem palmas Na terra da Santa Cruz Na terra das primaveras, As glórias não são quimeras, Nem o talento é um nome. Aqui se admira o gênio, Aqui se adora o proscênio, Aqui se eleva um renome. É bem risonha esta estrada Das glórias ao brilho santo, Ao ouvir vivos aplausos, De — hosanas — a ouvir um canto; Em cada dia uma palma, Em cada momento umalma Teu gênio sabe alcançar; Deus ungiu-te a altiva fronte, E, apontando-te o horizonte Disse: "Eia! podes voar..." Quanto és grande, — dizem todos Que tem à arte, amor e fé; Quanto és grande — di-lo o povo Que ardente e sincero é. Quanto és grande — o alaúde Que entoa só canto rude, Dizer-te procura em vão; Que ao gênio só se admira... Retratar não pode a lira Mesmo em toda a inspiração. Eia, avante! que o talento Brilha sempre triunfal, Como o sol ardente a pino Aclara a montanha e o val. Eia! Darte ó viajante Coa fronte de luz brilhante Vais ornado de lauréis; Tens croas em vez de espinho E, pois, no pó do caminho, Lanço uma flor a teus pés.