Noite de Amor

Castro Alves

(RECITATIVO) PASSAVA a lua pelo azul do espaço De teu regaço A namorar o alvor! Como era tema no seu brando lume... Tive ciúme De ver tanto amor. Como de um cisne alvinitentes plumas Iam as brumas A vagar nos céus, Gemia a brisa — perfumando a rosa — Terna, queixosa Nos cabelos teus. Que noite santa! Sempre o lábio mudo A dizer tudo A suspirar paixão De espaço a espaço — um fervoroso beijo E após o beijo E tu dizias — "Não!... " Eu fui a brisa, tu me foste a rosa, Fui mariposa — Tu me foste a luz! Brisa — beijei-te; mariposa — ardi-me, E hoje me oprime Do martírio a cruz E agora quando na montanha o vento Geme lamento De infinito amor, Buscando debalde te escutar as juras Não mais venturas... Só me resta a dor. Seria um sonho aquela noite errante?... Diz, minha amante!... Foi real... bem sei... Ai! não me negues... Diz-me a lua, o vento Diz-me o tormento... Que por ti penei!