A Minha Morte

Florbela Espanca

Eu quero, quando morrer, ser enterrada Ao pé do Oceano ingénuo e manso, Que reze á meia-noite em voz magoada As orações finais em meu descanso... Há-de embalar-me o berço derradeiro O mar amigo e bom para eu dormir! Velei na vida o meu viver inteiro, E nunca mais tive um sonho a que sorrir! E tu hás-de lá ir... bem sei que vais... E eu do brando sono hei-de acordar Para os teus olhos ver urna vez mais! E a luz há-de dizer-me em voz mansinha: — Ai, Não te assustes... dorme... foi o Mar Que gemeu... Não foi nada... está quietinha...