A Um Moribundo

Florbela Espanca

Nao tenhas medo, nao! Tranquilamente, Como adormece a noite pelo Outono, Fecha os teus olhos, simples, docemente, Como, á tarde, uma pomba que tem sono... A cabeça reclina levemente E os braços deixa-os ir ao abandono, Como tombam, arfando, ao sol poente, As asas de uma pomba que tem sono... O que há depois? Depois?... O azul dos céus? Um outro mundo? O eterno nada? Deus? Um abismo? Um castigo? Uma guarida? Que importa? Que te importa, ó moribundo? - Seja o que for, será melhor que o mundo! Tudo será melhor do que esta vida!...