A Uma Saudade

Florbela Espanca

Roxa saudade, roxa! Triste... Triste!... Um doce olhar aveludado e puro Fazes surgir do meu passado escuro, Na mesma dor imensa em que surgiste! És cinza dum amor que Não existe! Evocas na minh’alma o que murmuro Sem saber o que, o que procuro Na minha vida amargamente triste! Roxa saudade, és um soluço imenso! O símbolo de tudo quanto penso! Única luz de tudo quanto eu vejo! Roxa saudade! Ó meu perfume leve És um amor que se esqueceu tão breve, Que nem durou o frémito dum beijo...