Às Mães De Portugal

Florbela Espanca

O mães doloridas, celestiais, Misericordiosas, O mães d’olhos benditos, liriais, O mães piedosas Calai as vossas mágoas, vossas dores! Longe na crua guerra Vossos filhos defendem, vencedores, A nossa linda terra! E se eles defendem a bandeira Da terra que adorais, Onde viram um dia a luz primeira O mães porque chorais?! Uma lágrima triste, agora é Cobardia, fraqueza! Nos campos de batalha cai de pé A alma portuguesa! Pela terra de estrelas e tomilhos, De sol, e de luar, Deixai ir combater os vossos filhos Ao longe, heróis do mar! Dum português bendito, sem igual Eu sigo o mesmo trilho: Por cada pedra deste Portugal Eu arriscava um filho! Por isso ó mães doridas, pelo leito De morte, onde ajoelhais, Esmagai vossa dor dentro do peito, Ó mães não choreis mais! A Pátria rouba os filhos, mas é mãe A mãe de todos nós Direito de a trair não tem ninguém Ó mães nem sequer vós!