Castelã Da Tristeza

Florbela Espanca

Altiva e couraçada de desdém, Vivo sozinha em meu castelo: a Dor! Passa por ele a luz de todo o amor ... E nunca em meu castelo entrou alguém! Castelã da Tristeza, vês? ... A quem? ... – E o meu olhar é interrogador – Perscruto, ao longe, as sombras do sol-pôr ... Chora o silêncio ... nada ... ninguém vem ... Castelã da Tristeza, porque choras Lendo, toda de branco, um livro de horas, À sombra rendilhada dos vitrais? ... À noite, debruçada, plas ameias, Porque rezas baixinho? ... Porque anseias? ... Que sonho afagam tuas mãos reais? ...