Para Quê?

Florbela Espanca

Ao velho amigo Joao Para que ser o musgo do rochedo Ou urze atormentada da montanha? Se a arranca a ansiedade e o medo E este enleio e esta angústia estranha E todo este feitigo e este enredo Do nosso próprio peito? E é tamanha E tao profunda a gente que o segredo Da vida como um grande mar nos banha? Pra que ser asa quando a gente voa De que serve ser cántico se entoa Toda a cangao de amor do Universo? Para que ser altura e ansiedade, Se se pode gritar uma Verdade Ao mundo vao nas sílabas dum verso?