Renúncia

Florbela Espanca

A minha mocidade há muito pus No tranqüilo convento da tristeza; Lá passa dias, noites, sempre presa, Olhos fechados, magras máos em cruz... Lá fora, a Noite, Satanás, seduz! Desdobra-se em requintes de Beleza... E como um beijo ardente a Natureza... A minha cela é como um rio de luz... Fecha os teus olhos bem! Nao vejas nada! Empalidece mais! E, resignada, Prende os teus brafos a uma cruz maior! Gela ainda a mortalha que te encerra! Enche a boca de cinzas e de terra Ó minha mocidade toda em flor!