Velhinha

Florbela Espanca

Se os que me viram já cheia de graça Olharem bem de frente em mim, Talvez, cheios de dor, digam assim: "Já ela é velha! Como o tempo passa! ..." Não sei rir e cantar por mais que faça! Ó minhas mãos talhadas em marfim, Deixem esse fio de oiro que esvoaça! Deixem correr a vida até o fim! Tenho vinte e três anos! Sou velhinha! Tenho cabelos brancos e sou crente ... Já murmuro orações ... falo sozinha ... E o bando cor-de-rosa dos carinhos Que tu me fazes, olho-os indulgente, Como se fosse um bando de netinhos ...