O agregado e o operário

Patativa do Assaré

Sou matuto do Nordeste criado dentro da mata caboclo cabra da peste poeta cabeça chata por ser poeta roceiro eu sempre fui companheiro da dor, da mágoa e do pranto por isto, por minha vez vou falar para vocês o que é que eu sou e o que canto. Sou poeta agricultor do interior do Ceará a desdita, o pranto e a dor canto aqui e canto acolá sou amigo do operário que ganha um pobre salário e do mendigo indigente e canto com emoção o meu querido sertão e a vida de sua gente. Procurando resolver um espinhoso problema eu procure defender no meu modesto poema que a santa verdade encerra os camponeses sem terra que o céu deste Brasil cobre e as famílias da cidade que sofrem necessidade morando no bairro pobre. Vão no mesmo itinerário sofrendo a mesma opressão nas cidades, o operário e o camponês no sertão embora um do outro ausente o que um sente o outro sente se queimam na mesma brasa e vivem na mesma Guerra os agregados sem terra e os operários sem casa. Operário da cidade se você sofre bastante a mesma necessidade sofre o seu irmão distante levando vida grosseira sem direito de carteira seu fracasso continua é grande martírio aquele a sua sorte é a dele e a sorte dele é a sua. Disto eu já vivo ciente se na cidade o operário trabalha constantemente por um pequeno salário lá nos campos o agregado se encontra subordinado sob o jugo do patrão padecendo vida amarga tal qual burro de carga debaixo da sujeição. Camponeses meus irmãos e operários da cidade é preciso dar as mãos cheios de fraternidade em favor de cada um formar um corpo comum praciano e camponês pois só com esta aliança a estrela da bonança brilhará para vocês. Uns com os outros se entendendo esclarecendo as razões e todos juntos fazendo suas reivindicações por uma democracia de direito e garantia lutando de mais a mais são estes os belos planos pois nos direitos humanos nós todos somos iguais.