A minha vida tinha tomado a forma de uma pequena praça Naquele outono em que a tua morte se organizava meticulosamente Eu agarrava-me á praça porque tu amavas A humanidade humilde e nostálgica das pequenas lojas onde os caixeiros dobram e desdobram fitas e fazendas Eu procurava tornar-me tu porque tu ias morrer E a vida toda deixava ali de ser a minha Eu procurava sorrir como tu sorrias Ao vendedor de jornais ao vendedor de tabaco E á mulher sem pernas que vendia violetas Eu pedia á mulher sem pernas que rezasse por ti Eu acendia velas em todos os altares Das igrejas que ficavam ao canto desta praça Pois mal abri os olhos e vi foi para ler A vocação do eterno escrita no teu rosto Eu convocava as ruas os lugares as gentes Que foram as testemunhas do teu rosto Para que eles te chamassem para que eles desfizessem O tecido que a morte entrelaçava em ti.