Escorraçadas do pecado e do sagrado Habitam agora a mais íntima humildade Do quotidiano. São Torneira que se estraga atraso de autocarro Sopa que transborda na panela Caneta que se perde aspirador que não aspira Táxi que não há recibo estraviado Empurrão cotovelada espera Burocrático desvario Sem clamor sem olhar Sem cabelos eriçados de serpentes Com as meticulosas mãos do dia-a-dia Elas nos desfiam Elas são a peculiar maravilha do mundo moderno Sem rosto e sem máscara Sem nome e sem sopro São as hidras de mil cabeças da eficácia que se avaria Já não perseguem sacrílegos e parricidas Preferem vítimas inocentes Que de forma nenhuma as provocaram Por elas o dia perde seus longos planos lisos Seu sumo de fruta Sua fragrância de flor Seu marinho alvoroço E o tempo é transformado Em tarefa e pressa A contratempo.