Homens à beira-mar

Sophia de Mello Breyner Andresen

Nada trazem consigo. As imagens Que encontram, vão-se delas despedindo, Nada trazem consigo, pois partiram Sós e nus, desde sempre, e os seus caminhos Levam só ao espaço como o vento. Embalados no próprio movimento, Como se andar calasse algum tormento, O seu olhjar fixou-se para sempre Na aparição sem fim dos horizontes. Como o animal que sente ao longe as fontes, Tudo neles se cala para auscultar O coração crescente da distância, E longínqua lhes é a própria ânsia. É-lhes longínquo o sol quando os consome, É-lhes longínqua noite e asua fome. É-lhes longínquo o próprio corpo e o traço, Que deixam pela areia, paso a passo. Porque o calor do sol não os consome, Porque o frio da noite não os gela, E nem sequer lhes dói a própria fome, E é-lhes estranho até o próprio rasto. Nenhum jardim, nenhum olhar os prende, Intactos nas paisagens onde chegam Só encontram o longe que se afasta, AS aves estrangeiras que os traspassam, E o seu corpo é só um nó de frio Em busca de mais mar e mais vazio.