Para o Ernesto Veiga de Oliveira

Sophia de Mello Breyner Andresen

(no dia da sua morte) Àquele que hoje morreu tendo sido Fiel a cada hora do vivido Trago o poema desse tempo antigo: Irisado cintilar dos areais Na breve eternidade desse instante Que não pode jamais ser repetido Foi nesse tempo o tempo: Longas tardes conversas demoradas No extático fervor adolescente Das grandes descobertas deslumbradas Versos dança música pintura Um mundo vivo em canto e em figura Que a vida inteira ficará comigo Agradecendo a graça do ter sido Assim pudesse o tempo regressar Recomeçarmos sempre como o mar