Que poderei de mim mais arrancar

Sophia de Mello Breyner Andresen

Que poderei de mim mais arrancar P'ra suportar o dom da tua mão, Anjo rubro do vento e solidão Que me trouxeste o espaço, o deus e o mar? No céu, a linha última das casas É já azul, alada, imensa e leve. Nenhum gesto, nenhum destino é breve Porque em todos estão inquietas asas. Depois ao pôr do sol ardem as casas, O céu e o fogo passam pela terra, E a noite negra vem cheia de brasas Num crescendo sem fim que nos desterra.