Tu não estás como Vitória à proa Nem abres no extremo do promontório as tuas asas Nem caminhas descalça nos teus pátios quadrados e caiados Nem desdobras o teu manto na escultura do vento Nem ofereces o teu ombro à seta da luz pura Mas no extremo do promontório Em tua pequena capela rouca de silêncio Imóvel, muda inclinas sobre a prece O teu rosto feito de madeira e pintado como um barco O reino dos antigos deuses não resgatou a morte E buscamos um deus que vença connosco a nossa morte É por isso que tu estás em prece até ao fim do mundo Pois sabes que nós caminhamos nos cadafalsos do tempo Tu sabes que para nós existe sempre O instante em que se quebra a aliança do homem com as coisas Os deuses de mármore afundam-se no mar Homens e barcos pressentem o naufrágio E por isso não caminhas cá fora com o vento No grande espaço liso da luz branca Nem habitas no centro da exaltação marinha O antigo círculo dos deuses deslumbrados Mas rodeada pela cal dos pátios e dos muros Assaltada pelo clamor do mar e a vemência do vento Inclinas o teu rosto Imóvel muda atenta como antena