Se Eu Te Dissesse

Castro Alves

SE EU te dissesse que cindindo os mares, Triste, pendido sobre a vítrea vaga, Eu desfolhava de teu nome as pétalas Ao salso vento, que as marés afaga... Se eu te dissesse que por ermos cimos, Por ínvios trilhos de uni país distante, Teu casto riso, teu olhar celeste Ungia o lábio ao viajor errante; Se eu te dissesse que do alvergue à ermida, Do monte ao vale, da chapada à selva, Junta comigo vagueou tua alma; Junta comigo pernoitou na relva; Se eu te dissesse que ao relento frio Dei minha fronte à viração gemente, E olhando o rumo de teu lar — saudoso, Molhei as trevas de meu pranto algente; Se eu te dissesse, bela flor das saias! Que eu dei teu nome dos sertões às flores!... E ousei, na trova em que os pastores gemem, Por ti, senhora, improvisar de amores; Se eu te dissesse que tu foste a concha Que o peregrino traz da Terra Santa, Mago amuleto que no seio mora, Doce relíquia... talismã que encanta!... ; Se eu te dissesse que tu foste a rosa Que ornava a gorra ao menestrel divino; Cruz que o Templário conchegava ao peito Quando nas naves reboava o hino; Se eu te dissse que tu és, criança! O anjo-da-guarda que me orvalha as preces...; Se eu te disserte... — Foi talvez mentira! — Se eu te dissesse... Tu talvez dissesses...