Gesso e Bronze

Castro Alves

FOI CANOVA ou Davi... Um mestre, um escultor, Duas estátuas fez simbolizando o amor... Uma — pálida e fria, inda amassada em gesso No canto da oficina ensaio sem apreço!... Outra — prodígio darte, arrojo peregrino, Encarnação de luz em bronze fiorentino!... Uma noite, porém, um raio, o acaso... um nada O incêndio arremessando à tenda profanada... No vermelho estendal das cinzas do brasido Viu-se o esboço de pé!... e o bronze derretido!... Senhora, Deus também às vezes é escultor, E gosta de esculpir nos corações o amor... De argila ou de metal, de barro ou de alabastro Com o limo com que faz a escuridão e o astro Mas quando o acaso... um gesto... um riso leviano Ateia a flama vil de um zelo ardente, insano... Sabeis o que se dá? — O amor de gesso medra De lodo que era há pouco enrija faz-se pedra ................................................ Mas da lava infernal o beijo libertino Funde a estátua do amor de bronze florentino!!