No silêncio morno das coisas do meio-dia Eu me esvaio no aniquilamento dos agudíssimos do violino Que a menina pálida estuda há anos sem compreender. Eu sinto o letargo das dissonâncias harmônicas Do vendedor de modinhas e da pedra do amolador Que trazem a visão de mulheres macilentas dançando no espaço Na moleza das espatifadas da carne. Eu vou pouco a pouco adormecendo Sentindo os gritos do violino que penetram em todas as frestas E ressecam os lábios entreabertos na respiração Mas que dão a impressão da mediocridade feliz e boa. Que importa que a imagem do Cristo pregada na parede seja a verdade... Eu sinto que a verdade é a grande calma do sono Que vem com o cantar longínquo dos galos E que me esmaga nos cílios longos beijos luxuriosos... Eu sinto a queda de tudo na lassidão... Adormeço aos poucos na apatia dos ruídos da rua E na constância nostálgica da tosse do vizinho tuberculoso Que há um ano espera a morte que eu morro no sono do meio-dia. ---