Está ausente. Ausente como as vozes da minha infância
E muda - eu lhe dou adeus de todos os espaços
Grito o seu nome em todas as ruas - e os trens passam deixando a distância nas casas que dormem
Mas está muda e ausente - e os trens passam e eu grito o seu nome…
Ah, meu amor! por que a saudade está me chamando para a noite?
Sou eu, sou eu! aquele cuja alma se estende sobre a vida
Aquele cujo espírito é imenso e cujo coração é trágico
Eu, eu... E logo nada mais serei que memória e dolorosa lembrança
Teus gestos e teus olhares de profunda inocência, onde estão?
Nada se move... - há uma luz, um leito e uma lua lá longe...
Talvez eu esteja prisioneiro de um destino atroz - socorre-me!
Talvez eu esteja sofrendo um instante atroz - liberta-me!
Quero a calma, a pureza, a serenidade do teu mundo
Quero as manhãs nascendo e as tardes se pondo docemente
Não quero o horror! as convulsões, os desânimos, as lágrimas, a cólera
Quero as tuas mãos - e não as encontro no ar, no mar, no luar, no caminhar
Adormece e vem - eu sei que sou forte e belo para a vida
Sei que há um gênio inquieto na minha palavra que um dia será ouvida
Mas nesse momento quero apenas que seja tu a que sabe e a que recebe
Onde estás? - no país distante que fica ao poente ou no país presente que fica ao levante?…
Ausente - muda e ausente! crianças que sonham trazei-me o seu sono
Estrelas que dormem trazei-me o seu sonho. - Mas quem bateu na minha janela?
- Foi o grito dos trens partindo da tristeza de uns para a alegria de outros
- Foi o grito do além pedindo o orvalho das madrugadas para a carne dos infelizes…