Salta como um fauno puro ou um sapo miraculoso por entre os raios do sol frenético
Distribuindo alegres e bem-soantes palavrões para protestantes e católicos
Urina sobre as escadarias dos templos porque ali os mendigos se sentam
E cospe sobre todos os que se proclamaram miseráveis.
Canta, canta demais! Nada há como o amor para matar a vida
Amor que é bem o amor da inocência primeira.
Canta! O coração da Donzela restado da carne ficará queimando eternamente a amiga morta
Para o horror dos monges, dos cortesãos, dos caftens, das prostitutas e dos pederastas.
Transforma-te por um segundo num mosquito gigantesco e passeia sobre as grandes cidades
Espalhando o terror por toda a parte onde pousem as tuas impalpáveis antenas
Lega aos cínicos o cinismo, aos covardes a covardia, aos avaros a avareza
E injeta-os de pureza para que eles apodreçam como porcos mordidos por
[serpentes.
E com toda essa lama faz um poema puro - faz e deixa-o
Como o velho de Sindbad ele há de saltar às custas dos que foram passando
Há de estrangulá-los, vencê-los, aniquilá-los misteriosamente
Como o branco fantasma da sua podridão e da sua mentira.
Canta! Canta porque cantar é a missão do poeta
E dança porque dançar é o destino da pureza
Para os cemitérios e os lares faz o teu gesto obsceno
Carne morta na carne viva, basta! falo eu que sou um.