Ignoro o que seja a flor da água

Eugénio de Andrade

mas conheço o seu aroma: depois das primeiras chuvas sobe ao terraço, entra nu pela varanda, o corpo inda molhado procura o nosso corpo e começa a tremer: então é como se na sua boca um resto de imortalidade nos fosse dado a beber, e toda a música da terra, toda a música do céu fosse nossa, até ao fim do mundo, até amanhecer.