Mãe-terra

Alcione Sortica

Bolas... sejam de meia, vidro, plástico, borracha, celulóide, couro, marfim ou madeira, até de papel, amarrado com barbante, sempre fizeram parte da vida do homem. Assim, jogando gude, futebol, pelada, pingue-pongue, sinuca, voleibol, basquete, tênis e muitos outros mais, vamos batendo nelas com tacos e raquetes, cabeceando, chutando, socando, até esvaziarem, rasgarem, quebrarem, se acabarem. Aí, o que fazemos? Vamos ali na loja e compramos outra... Fácil, não é?... E a nossa mãe-terra, essa imensa bola em que vivemos, e única dotada de vida. Como agimos com ela? Também rasgamos suas entranhas, exaurimos energias, extinguimos formas vivas, devastamos tudo que vemos pela frente, queimamos, poluimos, arrancamos, cortamos, pintamos o espaço azul com rolos grossos de fumo, de onde emergem desertos, de troncos calcinados, florestas fantasma, sem verde, sem alma, e uma superpopulação, cada vez mais carente, revoluteando ao redor, sem recursos e sem rumo. Pobre mãe-terra! Também agimos, sem qualquer bom senso, fazendo tudo para que se acabe. E, quando isso ocorrer, o que faremos, Zé? Ora, bolas! Vamos ali na esquina e compramos outra. Muito fácil! Não é?...