Raio de luz

Alcione Sortica

Se a única realidade é o passado, onde está a criança que nasci, o jovem que usou meu cérebro para sonhar, o homem que fui ontem, hoje de manhã, há apenas um segundo? Só estiveram, amaram, riram ou choraram, num pedaço qualquer do tempo, mas lá não estão mais. E se a certeza é o futuro, quem será e onde estará o homem, que serei daqui a instantes, amanhã de manhã, até mais não sei quando? Tal e qual o menino do passado, também não consigo encontrá-lo. Ambos não morreram, mas nenhum existe. Somos, na realidade, uma infinidade de seres diferentes, a cada avanço milimétrico do tempo, revelando o ser confuso, mágico, incompreensível, que somos no momento. Na velocidade incomensurável da luz, a terra desloca-se no universo, atrelada à galáxia. E você, que leu este poema até o fim, já está a milhões de quilômetros do princípio, e não é a mesma pessoa que alguém viu ou conheceu.