Se a única realidade é o passado,
onde está a criança que nasci,
o jovem que usou meu cérebro para sonhar,
o homem que fui ontem, hoje de manhã,
há apenas um segundo?
Só estiveram, amaram, riram ou choraram,
num pedaço qualquer do tempo,
mas lá não estão mais.
E se a certeza é o futuro,
quem será e onde estará
o homem, que serei daqui a instantes,
amanhã de manhã, até mais não sei quando?
Tal e qual o menino do passado,
também não consigo encontrá-lo.
Ambos não morreram,
mas nenhum existe.
Somos, na realidade,
uma infinidade de seres diferentes,
a cada avanço milimétrico do tempo,
revelando o ser confuso,
mágico, incompreensível,
que somos no momento.
Na velocidade incomensurável da luz,
a terra desloca-se no universo,
atrelada à galáxia.
E você, que leu este poema até o fim,
já está a milhões de quilômetros do princípio,
e não é a mesma pessoa que alguém viu ou conheceu.