Mulheres à beira-mar

Sophia de Mello Breyner Andresen

Confundido os seus cabelos com os cabelos do vento, têm o corpo feliz de ser tão seu e tão denso em plena liberdade. Lançam os braços pela praia fora e a brancura dos seus pulsos penetra nas espumas. Passam aves de asas agudas e a curva dos seus olhos prolonga o interminável rastro no céu branco. Com a boca colada ao horizonte aspiram longamente a virgindade de um mundo que nasceu. O extremo dos seus dedos toca o cimo de delícia e vertigem onde o ar acaba e começa. E aos seus ombros cola-se uma alga, feliz de ser tão verde.