À noite sonhei contigo... E o sonho cruel maldigo Que me deu tanta ventura. Uma estrelinha que vaga Em céu de inverno e se apaga Faz a noite mais escura! Eu sonhava que sentia Tua voz que estremecia Nos meus beijos se afogar! Que teu rosto descorava E teu seio palpitava E eu te via a desmaiar! Que eu te beijava tremendo, Que teu rosto enfebrecendo Desmaiava a palidez! Tanto amor tua alma enchia E tanto fogo morria Dos olhos na languidez! E depois... dos meus abraços, Tu caíste, abrindo os braços, Gélida, dos lábios meus... Tu parecias dormir, Mas debalde eu quis ouvir O alento dos seios teus... E uma voz, uma harmonia No teu lábio que dormia Desconhecida acordou, Falava em tanta ventura, Tantas notas de ternura No meu peito derramou! O soído harmonioso Falava em noites de gozo Como nunca eu as senti. Tinha músicas suaves, Como no canto das aves, De manhã eu nunca ouvi! Parecia que no peito Nesse quebranto desfeito Se esvaía o coração... Que meu olhar se apagava, Que minhas veias paravam E eu morria de paixão... E depois... num santuário Junto do altar solitário Perto de ti me senti, Dormias junto de mim... E um anjo nos disse assim: "Pobres amantes, dormi!" Tu eras inda mais bela... O teu leito de donzela Era coberto de flores... Tua fronte empalecida, Frouxa a pálpebra descida, Meu Deus! que frio palor!... Dei-te um beijo... despertaste, Teus cabelos afastaste, Fitando os olhos em mim... Que doce olhar de ternura! Eu só queria a ventura De um olhar suave assim! Eu dei-te um beijo, sorrindo Tremeste os lábios abrindo, Repousaste ao peito meu... E senti nuvens cheirosas, Ouvi liras suspirarem, Rompeu-se a névoa... era o céu! Caía chuva de flores E luminosos vapores Davam azulada luz... E eu acordei... que delírio! Eu sonho findo o martírio E acordo pregado à cruz!