Ó Teresa, um outro beijo! e abandona-me a meus sonhos e a meus suaves delírios. JACOPO ORTIS É loucura, meu anjo, é loucura Os amores por anjos... bem sei! Foram sonhos, foi louca ternura Esse amor que a teus pés derramei! Quando a fronte requeima e delira, Quando o lábio desbota de amor, Quando as cordas rebentam na lira Que palpita no seio ao cantor... Quando a vida nas dores é morta, Ter amores nos sonhos é crime? E loucura: eu o sei! mas que importa? Ai! morena! és tão bela!... perdi-me! Quando tudo, na insônia do leito, No delírio de amor devaneia E no fundo do trêmulo peito Fogo lento no sangue se ateia... Quando a vida nos prantos se escoa Não merece o amante perdão? Ai! morena! és tão bela! perdoa! Foi um sonho do meu coração! Foi um sonho... não cores de pejo! Foi um sonho tão puro!... ai de mim! Mal gozei-lhe as frescuras de um beijo! Ai! não cores, não cores assim! Não suspires! por que suspirar? Quando o vento num lírio soluça, E desmaia no longo beijar, E ofegante de amor se debruça... Quando a vida lhe foge, lhe treme, Pobre vida do seu coração, Essa flor que o ouvira, que geme, Não lhe dera no seio o perdão? Mas não cores! se queres, afogo No meu seio o fogoso anelar! Calarei meus suspiros de fogo E esse amor que me há de matar! Morrerei, ó morena, em segredo! Um perdido na terra sou eu! Ai! teu sonho não morra tão cedo Como a vida em meu peito morreu!