Idealizações

Augusto dos Anjos

Agora é noite! E na estelar coorte, Como recordação da festa diurna Geme a pungente orquestração noturna E chora a fanfarra triunfal da Morte. Então, a Lua que no céu se espalha, Iluminando as serranias, banha, As serranias duma luz estranha, Alva como um pedaço de mortalha! Nessa música que a alma me ilumina Tento esquecer as minhas próprias dores Canto, e minh'alma cobre-se de flores — Fera rendida à música divina. Harpas concertam! Brandas melodias Plangem... Silêncio! Mas de novo as harpas Reboam pelo mar, pelas escarpas, Pelos rochedos, pelas penedias... Eu amo a Noite que este Sol arranca! Namoro estrelas... Sirius me deslumbra, Vésper me encanta, e eu beijo na penumbra A imagem lirial da Noite Branca!