A Faustino Xavier de Novais

Casimiro de Abreu

Bem-vindo sejas, poeta, A estas praias brasileiras! Na pátria das bananeiras As glórias não são de mais: Bem-vindo o filho do Douro! A terra das harmonias, Que tem Magalhães e Dias, Bem pode saudar Novais. Vieste a tempo, poeta, Trazer-nos o sal da graça, Pois c'os terrores da praça Andava a gente a fugir: Agora calmando o medo, E ao bom humor dando largas, A comprimir as ilhargas Agora vão todos rir. Entre todos os paquetes Que o velho mundo nos manda, Eu sustento sem demanda Tamar foi o mais feliz: Os outros trazem cebolas, Vinho em pipas, trapalhadas, Este trouxe gargalhadas, Sem ser fazenda em barris. Venha a sátira mordente, Brilhe viva a tua veia, Já que a cidade está cheia Desses eternos Manéis: Os barões andam às dúzias, Como os frades nos conventos, Comendadores aos centos, Viscondes a pontapés. Aproveita estes bons tipos, Há-os aqui com fartura, E salte a caricatura Nos traços do teu pincel: Ou quer na prosa ou no verso, Dá-lhes bem severo ensino, Ressuscita o Tolentino, Embeleza o teu laurel. Pinta este Rio num quadro, As letras falsas dum lado, As discussões do senado, As quebras, os trambulhões; Mascates roubando moças, E lá no fundo da tela Desenha a febre amarela, Vida e morte aos cachações. Oh! canta! o povo te aplaude, E os louros pra ti são certos! Acharás braços abertos No meu paterno torrão: Se és português lá na Europa, Aqui, vivendo conosco Debaixo do colmo tosco, Aqui serás nosso irmão! Bem-vindo, bem-vindo sejas A estas praias brasileiras! Na pátria das bananeiras As glórias não são de mais. Bem-vindo o filho do Douro! A terra das harmonias, Que tem Magalhães e Dias, Bem pode saudar Novais.