Nas horas ardentes do pino do dia Aos bosques corri; E qual linda imagem dos castos amores, Dormindo e sonhando cercada de flores Nos bosques a vi! Dormia deitada na rede de penas — O céu por dossel, De leve embalada no quieto balanço Qual nauta cismando num lago bem manso Num leve batel! Dormia e sonhava — no rosto serena Qual um serafim; Os cílios pendidos nos olhos tão belos, E a brisa brincando nos soltos cabelos De fino cetim! Dormia e sonhava — formosa embebida No doce sonhar, E doce e sereno num mágico anseio Debaixo das roupas batia-lhe o seio No seu palpitar! Dormia e sonhava — a boca entreaberta, O lábio a sorrir; No peito cruzados os braços dormentes, Compridos e lisos quais brancas serpentes No colo a dormir! Dormia e sonhava — no sonho de amores Chamava por mim, E a voz suspirosa nos lábios morria Tão terna e tão meiga qual vaga harmonia De algum bandolim! Dormia e sonhava — de manso cheguei-me Sem leve rumor; Pendi-me tremendo e qual fraco vagido, Qual sopro da brisa, baixinho ao ouvido Falei-lhe de amor! Ao hálito ardente o peito palpita... Mas sem despertar; E como nas ânsias dum sonho que é lindo, A virgem na rede corando e sorrindo... Beijou-me — a sonhar!