A Criança

Castro Alves

— Que veux-tu, fleur, beau fruit, ou l'oiseau merveilleux? — Ami, dit l'enfant grec, dit l'enfant aux yeux bleus, Je veux de la poudre et des balles. VICTOR HUGO - Les Orientales. Que tens criança? O areal da estrada Luzente a cintilar Parece a folha ardente de uma espada. Tine o sol nas savanas. Morno é o vento. À sombra do palmar O lavrador se inclina sonolento. É triste ver uma alvorada em sombras, Uma ave sem cantar, O veado estendido nas alfombras. Mocidade, és a aurora da existência, Quero ver-te brilhar. Canta, criança, és a ave da inocência. Tu choras porque um ramo de baunilha Não pudeste colher, Ou pela flor gentil da granadilha? Dou-te, um ninho, uma flor, dou-te uma palma, Para em teus lábios ver O riso — a estrela no horizonte da alma. Não. Perdeste tua mãe ao fero açoite Dos seus algozes vis. E vagas tonto a tatear a noite. Choras antes de rir... pobre criança!... Que queres, infeliz?... — Amigo, eu quero o ferro da vingança. Recife, 30 de junho de 1865. Publicado no livro A cachoeira de Paulo Afonso: poema original brasileiro (1876). In: ALVES, Castro. Obra completa. Org. e notas Eugênio Gomes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 198