O Bandolim da Desgraça

Castro Alves

QUANDO de amor a Americana douda A moda tange na febril viola, E a mão febrenta sobre a corda fina Nervosa, ardente, sacudida rola. A gusla geme, sestorcendo em ânsias, Rompem gemidos do instrumento em pranto... Choro indizível... comprimir de peitos... Queixas, soluços... desvairado canto! E mais dorida a melodia arqueja! E mais nervosa corre a mão nas cordas!... Ai! tem piedade das crianças louras Que soluçando no instrumento acordas! ... "Ai! tem piedade dos meus seios trêmulos..." Diz estalando o bandolim queixoso. ... E a mão palpita-lhe apertando as fibras... E fere, e fere em dedilhar nervoso!... Sobre o regaço da mulher trigueira, Doida, cruel, a execução delira!... Então — coas unhas cor-de-rosa, a moça. Quebrando as cordas, o instrumento atira!... ........................................ Assim, Desgraça, quando tu, maldita! As cordas dalma delirante vibras... Como os teus dedos espedaçam rijos Uma por uma do infeliz as fibras! — Basta —, murmura esse instrumento vivo. — Basta —, murmura o coração rangendo, E tu, no entanto, num rasgar de artérias, Feres lasciva em dedilhar tremendo. Crença, esperança, mocidade e glória, Aos teus arpejos, — gemebundas morrem!... Resta uma corda... — a dos amores puros —... E mais ardentes os teus dedos correm!... E quando farta a cortesã cansada A pobre gusla no tapete atira, Que resta?... — Uma alma — que não tem mais vida! Olhos — sem pranto! Desmontada — lira!!!