Boa-noite

Castro Alves

Boa noite, Maria! Eu vou-me embora. A lua nas janelas bate em cheio... Boa noite, Maria! É tarde... é tarde... Não me apertes assim contra teu seio. Boa noite!... E tu dizes – Boa noite. Mas não digas assim por entre beijos... Mas não me digas descobrindo o peito, – Mar de amor onde vagam meus desejos. Julieta do céu! Ouve.. a calhandra já rumoreja o canto da matina. Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira... ...Quem cantou foi teu hálito, divina! Se a estrela-dalva os derradeiros raios Derrama nos jardins do Capuleto, Eu direi, me esquecendo dalvorada: "É noite ainda em teu cabelo preto..." É noite ainda! Brilha na cambraia – Desmanchado o roupão, a espádua nua – o globo de teu peito entre os arminhos Como entre as névoas se balouça a lua... É noite, pois! Durmamos, Julieta! Recende a alcova ao trescalar das flores, Fechemos sobre nós estas cortinas... – São as asas do arcanjo dos amores. A frouxa luz da alabastrina lâmpada Lambe voluptuosa os teus contornos... Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos Ao doudo afago de meus lábios mornos. Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos Treme tua alma, como a lira ao vento, Das teclas de teu seio que harmonias, Que escalas de suspiros, bebo atento! Ai! Canta a cavatina do delírio, Ri, suspira, soluça, anseia e chora... Marion! Marion!... É noite ainda. Que importa os raios de uma nova aurora?!... Como um negro e sombrio firmamento, Sobre mim desenrola teu cabelo... E deixa-me dormir balbuciando: – Boa noite! –, formosa Consuelo...