Última Canção

Eugénio de Andrade

Se puderes ainda ouve-me, rio de cristal, ave matutina. ouve-me, luminoso fio tecido pela neve, esquivo e sempre adiado aceno do paraíso. Ouve-me, se puderes ainda, Devastador desejo, fulvo animal de alegria. Se não és alucinação ou miragem ou quimera, ouve-me ainda: vem agora e não na hora da nossa morte - dá-me a beber a própria sede.