A Voz Da Tília

Florbela Espanca

Diz-me a tilia a cantar: "Eu sou sincera, Eu sou isto que vés: o sonho, a graça, Deu ao meu corpo, o vento, quando passa, Este ar escultural de bayadera... E de manhâ o sol é uma cratera, Uma serpente de oiro que me enlaça... Trago nas mâos as mâos da Primavera... E é para mim que em noites de desgraça Toca o vento Mozart, triste e solene, E à minha alma vibrante, posta a nu, Diz a chuva sonetos de Verlaine..." E, ao ver-me triste, a tilia murmurou: "Já fui um dia poeta como tu... Ainda hás de ser tilia como eu sou..."