Cinzento

Florbela Espanca

Poeiras de crepúsculos cinzentos, Lindas rendas velhinhas, em pedaços, Prendem-se aos meus cabelos, aos meus braços Como brancos fantasmas, sonolentos... Monges soturnos deslizando lentos, Devagarinho, em mist'riosos passos... Perde-se a luz em lánguidos cansaços... Ergue-se a minha cruz dos desalentos! Poeiras de crepúsculos tristonhos, Lembram-me o fumo leve dos meus sonhos, A névoa das saudades que deixaste! Hora em que o teu olhar me deslumbrou... Hora em que a tua boca me beijou... Hora em que fumo e névoa te tornaste...